Assim como com os seres humanos, o envelhecimento dos animais de estimação resulta em diversas mudanças metabólicas, funcionais e físicas no cérebro.
Muitas dessas mudanças não são desejadas, e algumas podem ser irreversíveis. Essas mudanças podem afetar a cognição – a capacidade de um animal de aprender, solucionar problemas e se lembrar das coisas. No entanto, mesmo donos observadores podem não reconhecer este declínio cognitivo até que haja uma alteração repentina no comportamento do seu animal de estimação.
Felizmente, os animais de estimação podem ter um envelhecimento saudável sem demonstrar alguns sinais de senilidade: A pesquisa de Purina demonstra que uma intervenção precoce por meio de uma nutrição direcionada utilizando triglicerídios de cadeia média (MCTs) e outros nutrientes pode ajudar a dar suporte à função cerebral de cães e gatos à medida que eles envelhecem. Assim, a meia-idade é o momento certo para que os veterinários comecem a discutir com os donos sobre o envelhecimento, os sinais de um envelhecimento anormal e as estratégias para promover a saúde cerebral.
Como os donos de animais de estimação vêem seus animais idosos
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As mudanças no cérebro que envelhece
As mudanças físicas no cérebro associadas ao envelhecimento incluem:
- Atrofia (diminuição) do tecido cerebral de algumas regiões
- Aumento do volume ventricular
- Perda de neurônios e sinapses e redução na formação de novos neurônios
- Acúmulo de proteínas anormais
Entre as outras alterações significativas, estão:
- Redução no uso da glicose
- Inflamações crônicas
- Alterações vasculares
- Redução/deterioração da mielinização
- Anomalias nos astrócitos e células de suporte dos neurônios
- Deficiência na remoção de proteínas anormais/danificadas
- Alterações na expressão genética
Comportamentos associados ao envelhecimento em cães e gatos
Os comportamentos que podem ser observados com o declínio cognitivo incluem um aumento da ansiedade e uma redução da habilidade de adaptabilidade frente ao estresse (incluindo comportamentos destrutivos), comportamentos compulsivos, confusão, alteração nas interações sociais, menor habilidade de se movimentar pelos ambientes, alterações no sono, menor resposta aos comandos, redução da capacidade de prever os horários de comer e alterações ao fazer suas necessidades e ao se alimentar.4,5
Intervenções nutricionais focando fatores de risco para mitigar as alterações relacionadas à idade
Com intervenções nutricionais focadas em algumas das modificações cerebrais conhecidas relacionadas à idade, podemos conseguir mitigar as reações em cadeia que levam às alterações irreversíveis que causam o declínio cognitivo. Combinações de determinados nutrientes podem fornecer benefícios adicionais além daqueles obtidos com a suplementação com um único nutriente.
Antioxidantes
Entre os antioxidantes, há uma ampla gama de substâncias que combatem os radicais livres, prevenindo a sua formação ou removendo-os antes que eles possam causar danos. O corpo produz seus próprios antioxidantes (endógenos); no entanto, a capacidade antioxidante endógena decresce com a idade, enquanto a produção de radicais livres aumenta com o passar do tempo, causando um desequilíbrio perigoso (o estresse oxidativo). O fornecimento de antioxidantes pela dieta pode ajudar a restabelecer o equilíbrio e a reduzir os danos oxidativos.
Óleo de peixe
O ácido docosaexaenoico (DHA) e o ácido eicosapentaenoico (EPA) dos ácidos graxos ômega-3 desempenham funções neuroprotetivas e anti-inflamatórias essenciais. O óleo de peixe representa uma fonte excelente de DHA e EPA.
Arginina
A L-arginina é um aminoácido metabolizado nas células, inclusive nos neurônios, para a formação do óxido nítrico (NO). A atividade neural durante as tarefas cognitivas está altamente associada a aumentos no fluxo sanguíneo regional, que é mediado principalmente pelo NO. A L-arginina também é metabolizada no neurotransmissor agmatina.
Vitaminas B
Determinadas vitaminas B, especialmente a tiamina (B1), a piridoxina (B6), o ácido fólico (B9) e a cobalamina (B12) são particularmente importantes para o neurodesenvolvimento e a função cognitiva. A deficiência em vitaminas B pode levar a altos níveis do aminoácido homocisteína no sangue, o que é um fator de risco para a deficiência cognitiva. A adição de suplementos com vitamina B reduz os riscos de deficiências e acúmulos de homocisteína, reduzindo, assim, um dos fatores de risco da deficiência cognitiva.
Cetonas de triglicerídios de cadeia média (MCTs)
O cérebro adulto depende da glicose para obter energia. A idade, reduz a capacidade do cérebro de utilizar a glicose como fonte de energia, mesmo quando ela está disponível. Devido às altas demandas de energia do cérebro, ele está particularmente vulnerável a fontes inadequadas de energia, resultantes de alterações no metabolismo energético. Uma redução no metabolismo da glicose pelo cérebro dá início a uma reação em cadeia que pode, mais tarde, levar à morte das células cerebrais e a uma perda irreversível de massa cerebral, bem como a alterações físicas e comportamentais.
Diante de um comprometimento do metabolismo da glicose, os neurônios podem precisar de uma fonte de energia alternativa para dar suporte ao seu funcionamento normal. Embora o metabolismo da glicose pelo cérebro diminua com o envelhecimento, o metabolismo de cetonas pelo cérebro parece não ser afetado e se presta à intervenção nutricional. Os corpos cetônicos podem fornecer até 60-70% da energia do cérebro durante períodos prolongados de jejum e de baixa disponibilidade de glicose.6
Além da produção de energia, as cetonas também oferecem benefícios neuroprotetivos. Elas reduzem a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) que causam estresse oxidativo, melhoram a regulação da função sináptica por meio da biogênese mitocondrial (formação de novas mitocôndrias) e estimulam a síntese de ácidos graxos poli-insaturados benéficos. Elas também podem promover a função mitocondrial e estimular as vias que ajudam a eliminar as proteínas anormais.
Quando metabolizados, os triglicerídios de cadeia média(conhecidos como MCts por sua sigla em inglês) representam uma fonte de cetonas. Os MCTs são gorduras encontradas em óleos vegetais, como o óleo de coco. Os ácidos graxos de cadeia média originários dos MCTs também fornecem energia e podem ajudar a restaurar a função mitocondrial, o que pode fornecer benefícios duradouros para a função e o metabolismo celulares.
Pesquisa da Purina
Donos de cães do grupo controle do estudo, também relataram melhorias acentuadas nos níveis de atividade dos seus cães, vivacidade e atividades recreativas.
A pesquisa de Purina demonstrou que cães alimentados com uma dieta suplementada com uma combinação de óleo de peixe, antioxidantes, arginina e vitaminas B cometeram menos erros em tarefas mais complexas que avaliavam a capacidade de resolução de problemas. À medida que as tarefas se tornavam mais complexas, os cães que recebiam a dieta com o suplemento cometiam significativamente menos erros do que aqueles que recebiam a dieta de controle.8
Proteger a função cognitiva ideal nos gatos
A pesquisa de Purina demonstrou que gatos alimentados com uma dieta contendo uma combinação de nutrientes específicos (óleo de peixe, antioxidantes, vitaminas B e arginina) apresentaram um desempenho superior em testes cognitivos de memória, aprendizado, flexibilidade mental e discriminação de objetos.9 Isso incluiu menos erros em testes de capacidade de resolução de problemas e de aprendizado visual.
Novos desenvolvimentos na pesquisa nutricional em neurologia
As pesquisas sobre o cérebro estão na linha de frente da nossa ciência. Temos o orgulho de lhe trazer as mais recentes descobertas, apresentadas a partir de um ponto de vista prático, para ajudar você a se manter atualizado na sua especialidade. Baixe aqui os artigos mais recentes.
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Sobre como proteger a cognição dos gatos.
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Principais pontos a serem lembrados
- As alterações físicas, metabólicas e funcionais relacionadas ao cérebro de animais de estimação de meia-idade podem definir o estágio da disfunção ou da deficiência cognitiva quando eles se tornarem idosos, e a gravidade e a progressão dessas alterações determinam a saúde do cérebro do animal mais tarde na sua vida.
- O cérebro em processo de envelhecimento dispõe de um metabolismo energético menos eficiente, devido a alterações no uso da glicose e a deficiências na função mitocondrial.
- Os donos de animais de estimação mais velhos podem não considerar seus animais “idosos” até notarem alterações comportamentais causadas pelas alterações cerebrais relacionadas à idade.
- Purina demonstrou que uma combinação de nutrientes pode focar nos fatores de risco do envelhecimento do cérebro para preservar habilidades cognitivas ideais em cães e gatos adultos.
- A meia-idade é o momento de se começar a conversar com os donos sobre o envelhecimento dos seus animais, como detectar os sinais de um envelhecimento anormal e estratégias para promover a saúde do cérebro.
Saiba mais
1. Studzinski, C. M., Christie, L.-A., Araujo, J. A., Burnham, W. M., Head, E., Cotman, C. W., & Milgram, N. W. (2006). Visuospatial function in the beagle dog: an early marker of cognitive decline in a model of human aging and dementia. Neurobiology of Learning and Memory, 86, 197–204
2. Landsberg, G. M., Nichol, J., & Araujo, J. A. (2012). Cognitive dysfunction syndrome: a disease of canine and feline brain aging. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, 42, 749–768. doi: 10.1016/j.cvsm.2012.04.003
3. London, E. D., Ohata, M., Takei, H., French, A. W., & Rapoport, S. I. (1983). Regional cerebral metabolic rate for glucose in beagle dogs of different ages. Neurobiology of Aging, 4, 121–126
4. Schütt, T., Toft, N., & Berendt, M. (2015). Cognitive function, progression of age-related behavioral changes, biomarkers, and survival in dogs more than 8 years old. Journal of Veterinary Internal Medicine, 201, 1569–1577. doi: 10.1111/jvim.13633
5. Cory, J. (2013). Identification and management of cognitive decline in companion animals and the comparisons with Alzheimer disease: A review. Journal of Veterinary Behavior: Clinical Applications and Research, 8, 291–301
6. Nugent, S., Tremblay, S., Chen, K. W., Ayutyanont, N., Roontiva, A., Castellano, C.-A. & Cunnane, S. C. (2014). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24388785 Brain glucose and acetoacetate metabolism: a comparison of young and older adults. Neurobiology of Aging, 35, 1386–1395. doi: 10.1016/j.neurobiolaging.2013.11.027
7. Pan, Y., Larson, B., Araujo, J. A., Lau, W., de Rivera, C., Santana, R., Gore, A., & Milgram, N. W. (2010). Dietary supplementation with medium-chain TAG has long-lasting cognition-enhancing effects in aged dogs. British Journal of Nutrition, 103, 1746–1754. doi: 10.1017/S0007114510000097
8. Pan, Y., Kennedy, A. D., Jonsson, T. J., & Milgram N. W. (2018). Cognitive enhancement in old dogs from dietary supplementation with a nutrient blend containing arginine, antioxidants, B vitamins and fish oil. British Journal of Nutrition, 119, 349–358. doi: 10.1017/S0007114517003464
9. Pan, Y., Araujo, J. A., Burrows, J., de Rivera, C., Gore, A., Bhatnagar, S., & Milgram, N. W. (2013). Cognitive enhancement in middle-aged and old cats with dietary supplementation with a nutrient blend containing fish oil, B vitamins, antioxidants and arginine. British Journal of Nutrition, 110, 40–49. doi: 10.1017/S0007114512004771